Por falar nisso...


Texto por: Maria Alice Estrella
Diário Popular / 2013


No somatório das situações vividas muito foi dito, sem dúvida. Contudo, o não dito ficou parado nas entrelinhas como um observador atento que se posta à margem do rio e observa o vai-e-vem da marés. Tem muita presença esse tal de não dito. E, igualmente, muita força.

No passar do tempo, se protagonizam inúmeros momento em que o não dito se torna mais eficaz do que o dito. Lembra daqueles amigos que juraram estar juntos para sempre? Que eram "unha e carne" para o que desse e viesse? Pois, a distância se interpôs, os caminhos se afastaram e o dito ficou pelo não dito.

E aquele encontro que virou desencontro? Aquele amor maior do que tudo? Cantado em verso e prosa: "O anel de vidro se quebrou e o amor, que era pouco, se acabou". Tudo o que foi dito ficou pelo não dito. A afirmativa que não fizeste, o telefonema que não deste, a carta que não escreveste, o sorriso que escondeste, a lágrima que seguraste, o grito que estrangulaste. Tudo que ficou por não dito te acompanha atrelado a uma sensação, misto de remorso e de renúncia.E julgas que consegues escapar ileso. Porém, essa faceta supostamente incólume, que o não dito possui, transtorna a tudo e a todos. Esse silêncio velado que o acompanha e que, mesmo na mudez, o faz proferir frases únicas, monossílabos que sintetizam o enorme das emoções que habitam em nós, dando a falsa impressão de que todas não tiveram sentido e não passaram de meras ilusões.

Aliás, o dito pode iludir. É capaz de nos envolver com suas palavras cheias de vogais e consoantes no explícito de cada momento. E ficamos a mercê de frases agradáveis do que desejamos ouvir, sejam ou não verdadeiras. Já, o não dito desconhece a ilusão. É transparente, objetivo, concreto, tácito. É o discurso indireto, propriamente dito. Subentendido e implícito.

Foi dito que a chuva chegaria até o final da tarde, mas o sol insistiu em aparecer no horizonte para um entardecer de cores múltiplas, desfazendo o dito e impondo o não dito.

Foi dito que “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”, porém, o não dito foi que o bom passa muito rápido e o mal demora a se esvair.

Foi dito que “antes só do que mal acompanhado”, no entanto, o não dito foi que o desejo de companhia é mais forte do que o julgamento entre o bem e o mal.

Foi dito que “antes tarde do que nunca”, todavia o não dito foi que o tarde chega sempre com jeito de quase nunca.

Afinal de contas, o imprevisível rege os acontecimentos e só dele depende que façamos outros amigos, que descubramos um novo amor, que convivamos com o que é dito e, mais do que isso, consigamos nos adaptar ao que não é dito.
E, por falar nisso, fica o dito por não dito e se encerra o assunto.

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